A diminuição do volume das águas da Lagoa do Bonfim, em Nísia Floresta, tem sido percebida aos olhos de quem frequenta a maior lagoa do Rio Grande do Norte. O nível de água recomendável no lago está 3 metros abaixo do recomendável, segundo dados do Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (Igarn). O ideal é estivesse na cota de 39,0 metros, mas, atualmente, o nível está oscilando entre as cotas 36 e 37 metros.
O publicitário Marcus Aragão é uma das pessoas que têm acompanhado a redução no volume de água no lago. Ele, que visita a região há 20 anos, publicou um artigo no qual explica como tal situação é motivo constante de preocupação, especialmente para pessoas que moram no entorno da lagoa. Pelos dados que constam no Igarn, a Lagoa do Bonfim tem uma capacidade total de 84.268.200 m³. Atualmente, o volume acumulado na lagoa é de 40,819 m³, correspondentes a 48,44% da sua capacidade.
“O programa das adutoras que visava retirar água da Lagoa do Bonfim para levar para quem mais precisava era perfeita se fosse sustentável. Isto é, se a lagoa fosse abastecida por algum rio. Todos sabemos que ela só recebe água quando Deus manda e ele tem mandado bem — Quase 2.000 milímetros por ano. 800 milímetros acima da média. A retirada é que está desproporcional. Por segundo saem 442 litros de água. Isso desde 1998. Já encolheu enormemente e continua a ir desaparecendo aos poucos”, desabafa o publicitário.
Aragão detalha que a Lagoa do Bonfim está interligada com outras lagoas menores, como a Carcará, Urubu, Redonda, Ferreira Grande e Boa água. “Secando o Bonfim, comprometemos todas. (…) Se fosse possível resolver o problema da seca no RN através da Lagoa do Bonfim, seria justo o sacrifício. (…) Agora, o que acontece é que ela está se esvaindo devido a irresponsabilidades das autoridades. Já está passando da hora de chegarem com uma solução de verdade para resolver a seca nas regiões que hoje recebem água do Bonfim. Pelo ritmo que vai, em breve faltará água para todos e teremos seca no sertão e nas 6 lagoas — é a ampliação do problema”, critica.
O risco de esvaziamento da lagoa, apontado pelo autor do vídeo acima, é avaliado pelo Igarn. Em nota enviada ao Agora RN, o instituto, que monitora a lagoa, afirma que “a Lagoa do Bonfim está em equilíbrio com o lençol de água subterrâneo. Assim, o volume de água da água deixa de ser importante, mas sim o nível de água da lagoa, que reflete o nível de água subterrâneo. As lagoas menores são mais rasas e o rebaixamento excessivo pode esvaziar essas lagoas”.
A Lagoa do Bonfim, cuja captação das águas é feita pelo Sistema Adutor Monsenhor Expedito há mais de 20 anos, fornece água para cerca de 30 municípios do Agreste Potiguar. Desta maneira, estudiosos e ambientalistas defendem que é necessário que a exploração se mantenha de forma sustentável, com vistas a não comprometer o sistema e permitir o abastecimento de água à população dos diversos municípios que dela dependente.
A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), que administra a lagoa para o abastecimento de água aos municípios, informou que não possui gestão sobre todas a ações necessárias para reduzir o consumo sem controle das águas da Lagoa do Bonfim. Não obstante, a CAERN já atua em parceria com outros órgãos para amenizar a situação.
Segundo a Companhia, a Lagoa do Bonfim juntamente com uma bateria de 7 poços tubulares no entorno da lagoa e outros 12 Poços tubulares na região de Boa Cica (Nisia Floresta) é responsável pelo suprimento de agua de 30 Municípios, atendendo uma população de aproximadamente 285 mil habitantes.
Na nota, a Caern diz que tem buscado alternativas de curto prazo para reduzir a captação direta da Lagoa do Bonfim e intensificado o trabalho de fiscalização e manutenção ao longo de todo o caminhamento da adutora (430km), para combater ligações clandestinas e vazamentos de pequeno porte.
A companhia não estimou prazo mas disse que “a médio prazo, espera-se que tenham sido implantadas implantado novas adutoras no estado do RN, como por exemplo a nova adutora do agreste”.
A Promotoria de Justiça de Nísia Floresta tem um inquérito civil instaurado para apurar a situação, que tem sido considerada problema ambiental.
A situação da lagoa é monitorada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN). O MPRN quer informações sobre a regularidade ambiental da exploração do manancial e expor as diligências complementares que serão requisitadas aos referidos órgãos.
Fonte: Agora RN