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Jr./SCO/STF O ministro Edson Fachin determinou que a Justiça de Curitiba
não tem competência para julgar processos de Lula na Lava Jato
Considerado um entusiasta da operação Lava Jato, o ministro do STF Edson
Fachin tem um histórico de decisões que foram consideradas "favoráveis" à
operação.
O que explica então sua decisão que tem como consequência a anulação das
condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos processos da Lava
Jato?
A decisão de Fachin reconheceu que a 13ª Vara de Curitiba não tem competência
para julgar os atos pelos quais Lula foi condenado, que deveriam, na verdade,
ter sido julgados em Brasília, onde os crimes teriam acontecido, explica o
professor de Direito Processual penal da Universidade de São Paulo Gustavo
Badaró.
Portanto, as decisões nos processos foram anuladas, e os julgamentos voltam
praticamente à estaca zero — as acusações devem ser julgadas novamente por um
juiz competente.
Badaró explica que Fachin não emitiu julgamento sobre mérito — se Lula é ou
não inocente — mas sobre uma questão processual: onde os julgamentos deveriam
acontecer.
Segundo Badaró e outros juristas ouvidos pela BBC News Brasil, a decisão de
Fachin foi técnica e seguiu a jurisprudência do STF, que vem há bastante tempo
tendo um entendimento de que a 13ª Vara de Curitiba não tem competência para
julgar possíveis crimes que teriam acontecido em outras partes do Brasil.
"Pelo Código de Processo Penal, o principal critério de competência é o local
dos fatos", explica o criminalista Davi Tangerino, professor da Fundação Getúlio
Vargas em São Paulo (FGV-SP).
"Mas há uma lei subsidiária que cria a possibilidade de que casos em que haja
conexão sejam julgados em outros lugares. Na Lava Jato, um processo foi puxando
outro e outro, e os casos acabaram ficando muito distantes daquele processo
original em Curitiba", explica Tangerino.
A defesa de Lula sempre argumentou que os casos pelos quais Lula era julgado
não teriam relação com dinheiro da Petrobras e portanto não deveriam ser
julgados em Curitiba.
Na visão do criminalista, a decisão de Fachin é correta e já deveria ter sido
tomada há bastante tempo. Ainda há possibilidade recurso, mas é
improvável que a decisão seja revertida.
Em sua decisão, Fachin deixa claro que ele pessoalmente não é a favor da tese
de que a competência da 13ª Vara de Curitiba deve ser restrita.
Mas, como as decisões do STF nos últimos anos têm sido nesse sentido,
explica, não cabe a ele individualmente ir contra a jurisprudência da Corte.
"Fica claro que o Fachin está dizendo: 'Eu me rendo', reiteradamente está se
decidindo que a competência é restrita, e ele tem que se render a esse
entendimento", afirma Tangerino.
© Dorivan
Marinho/SCO/STF
Estratégia para salvar a Lava Jato
Além do pedido de reconhecimento de incompetência, a defesa de Lula também
havia entrado com um outro recurso argumentando que o ex-juiz Sergio Moro é
suspeito para julgar o caso por não ter uma postura imparcial.
O recurso sobre a competência é diferente do recurso sobre imparcialidade de
Moro — este ainda não foi julgado.
Na prática, a decisão de Fachin sobre a competência torna o julgamento sobre
a suposta parcialidade de Moro desnecessário, explicam os juristas.
"Para o Moro, é uma ótima notícia, porque (essa decisão de Fachin) evita o
julgamento sobre a parcialidade do Moro. Não vai chegar o momento em que o STF
vai ter que decidir se Moro é parcial ou não", explica Tangerino.
Isso porque, se a Vara de Curitiba, onde Moro atuou até 2018, não tem
competência para o julgamento, as decisões já estão anuladas, e, em tese, uma
suposta parcialidade de Moro não seria relevante.
No entanto, segundo a Folha de S. Paulo, ministros da 2ª Turma pretendem
manter a análise da suposta parcialidade do ex-juiz nos processos envolvendo
Lula mesmo após a decisão de Fachin.
Mas há uma segunda consequência da decisão de Fachin de declarar a
incompetência da Vara de Curitiba. Caso Moro fosse considerado parcial, todos os
atos processuais do julgamento seriam considerados nulos e não poderiam ser
reaproveitados em um outro julgamento.
Mas, com a declaração de incompetência da Justiça de Curitiba, as provas já
produzidas no processo poderiam ser usadas pelo novo juiz competente para julgar
o caso.
"Se é caso de incompetência, o juiz competente pode aproveitar os atos
processuais de que não tem a competência, ou seja, as provas produzidas podem
ser reaproveitadas", explica Badaró.
"A decisão de Fachin", diz o criminalista, "pode ser uma estratégia para
salvar as provas e para tentar salvar a própria Lava Jato, uma vez que pode-se
dizer que há uma perda de interesse em julgar a parcialidade de Moro."
© EPA Lula
foi solto em novembro de 2019, após 580 dias preso
O que acontece agora?
A Procuradoria-Geral da República pode entrar com um recurso chamado agravo
regimental para pedir a reversão da decisão de Fachin.
Nesse caso, a 2ª Turma do STF vai avaliar o recurso e decidir se reverte a
decisão. Se isso não acontecer e a decisão for mantida, os casos envolvendo Lula
no âmbito da Lava Jato serão remetidos para Brasília para serem julgados
novamente, explica Tangerino.
Em tese, o petista poderia ser condenado novamente, mas ainda há outros
detalhes envolvidos — por exemplo, a possibilidade de que alguns dos crimes dos
quais ele é acusado prescrevam.
No momento, suas condenações estão anuladas, e o petista é considerado
elegível, ou seja, poderia concorrer a cargos públicos em eleições. fonte, https://www.msn.com/