BRASÍLIA - A filiação do presidente Jair Bolsonaro ao Patriota está cada vez mais
distante. O desembargador Rômulo de Araújo Mendes, do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, decidiu nesta terça-feira, 3, negar o pedido de Adilson
Barroso para voltar ao comando do partido. Apesar de ainda ser passível de
recurso, a decisão representa mais uma derrota para a ala que defendia a entrada
de Bolsonaro. O presidente negocia agora a ida para o Progressistas, sigla do
novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Afastado da presidência do Patriota, Barroso já admite não ter mais a
expectativa de filiar Bolsonaro. "Desde aquele tempo que o pessoal fez aquela
convenção falsa, não sentei com eles mais (Bolsonaro e aliados)", disse Barroso
ao Estadão. "Enquanto não resolver o problema jurídico, não
adianta conversar politicamente. Não adianta passar o carrinho na frente dos
bois".
O secretário-geral do Patriota, Jorcelino Braga, da ala que resiste à
filiação de Bolsonaro, afirmou que as negociações com Bolsonaro deixaram de
existir. "Desde que o Adilson foi afastado, não tivemos mais notícias",
contou.
Na solicitação à Justiça, Barroso disse que seu afastamento não tem validade
porque a reunião que resultou em sua punição não poderia ter sido convocada pelo
vice-presidente. A justificativa foi rejeitada pelo Tribunal de Justiça do
Distrito Federal. "Por decorrência lógica, o presidente não teria qualquer
interesse em convocar uma convenção para tratar de assuntos referentes à sua
própria investigação interna no partido, o que ampara a convocação da Convenção
Nacional pelo vice-presidente do partido", escreveu o desembargador Araújo
Mendes.
Adilson Barroso foi afastado por 90 dias do comando do Patriota, em 24 de
junho. A decisão foi confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 8 de
julho, e o vice-presidente do partido, Ovasco Resende, assumiu a presidência
interinamente.
Barroso é a favor da entrada de Bolsonaro no partido e Resende, contra. A
articulação do presidente para se filiar ao Patriota e controlar diretórios
estratégicos deflagrou uma guerra interna na sigla. O senador Flávio Bolsonaro (RJ) entrou no Patriota em
maio, abrindo caminho para a filiação do pai. De lá para cá, porém, a ala do
partido contrária a esse movimento foi à Justiça.
O presidente afastado do Patriota já promoveu duas convenções, nas quais
tentou buscar apoio para a filiação de Bolsonaro, mas uma ala do partido
contestou a validade dos encontros porque delegados da Executiva Nacional foram
trocados. A convenção do último dia 24, convocada por Ovasco Resende, hoje
presidente interino, foi a terceira, em menos de um mês.
Resende disse ao Estadão que Bolsonaro exigiu o comando dos
diretórios do Patriota em São Paulo, Rio e Minas Gerais, os três maiores colégios eleitorais do País.
Desde que deixou o PSL, em novembro de 2019, o presidente procura uma sigla para
abrigar sua candidatura a um novo mandato, em 2022. Tentou montar o Aliança pelo
Brasil, mas a empreitada não deu certo.