Imagens de câmeras de vigilância mostram a usina nuclear de Zaporíjia durante o bombardeio das tropas russas Foto: Autoridade Nuclear de Zaporíjia / Via Reuters
Uma autoridade local ucraniana informou, pelas redes sociais, que as forças militares russas tomaram o controle da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa. “O pessoal operacional está monitorando as condições das unidades de energia”, disse, acrescentando que os esforços buscaram garantir que as operações estivessem de acordo com os requisitos de segurança. A informação também foi passada em comunicado do Ministério da Defesa russo. A usina havia sido bombardeada e chegou a pegar fogo, causando alerta sobre a possibilidade de vazamento radioativo.
O fogo acabou sendo controlado pelo serviço de emergência estatal da Ucrânia, nesta sexta-feira. O bombardeio russo havia atingido um prédio de treinamento e um laboratório do complexo nuclear de 6.000 megawatts.
A secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, confirmou que não havia indicação de níveis elevados de radiação na usina nuclear, que fornece mais de um quinto da eletricidade total gerada na Ucrânia. Anteriormente, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) já havia informado que o incêndio não afetara equipamentos “essenciais”.
O Ministério da Defesa da Rússia, também em comunicado, culpou o ataque no local da usina de Zaporíjia a sabotadores ucranianos, chamando o ato de uma provocação monstruosa.
Conselho da ONU
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que irá solicitar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir a situação no complexo nuclear de Zaporíjia, exposto a um risco de vazamento de radiação por causa de manobras militares.
Mais cedo, o presidente dos EUA, Joe Biden, conversou com o presidente Volodymyr Zelensky sobre o incêndio no complexo nuclear e se juntou a ele para pedir à Rússia que cessasse suas atividades militares na área.
Nas redes sociais, o líder da Ucrânia acusou os militares russos de atacar deliberadamente a usina de Zaporíjia e disse que uma explosão seria “o fim para todos, o fim da Europa”. Em um vídeo de um minuto, Zelensky continuou dizendo: “Somente ações imediatas da Europa poderiam parar o exército russo”. Zelensky já havia acusado a Rússia de recorrer ao “terror nuclear” e de querer “repetir” a catástrofe de Chernobyl.
A informação sobre o fogo na usina foi divulgada primeiramente pelo prefeito da cidade de Energodar, Dmytro Orlov, em um vídeo postado em seu canal no Telegram. Ele citou o que chamou de ameaça à segurança mundial, mas sem dar detalhes.
Mais cedo, Orlov já tinha afirmado que uma coluna de soldados russas se direcionava para a usina nuclear, relatando que “tiros altos podiam ser ouvidos na cidade”. Autoridades ucranianas também informaram que as tropas russa intensificavam os esforços para tomar o controle da usina e que haviam entrado na cidade com tanques.
Pela manhã, as agências internacionais informaram que as tropas russas tinham avançado até 35km na região, entrando em confronto com ucranianos em Voznesenk, a cerca de 30km de distância, ainda na quarta-feira.
‘Eles não sabem o que estão fazendo’
Na ocasião, o chefe interino da empresa nuclear estatal ucraniana Energoatom, Petro Kotin, disse que, “se a situação piorar, será impossível pensar no que acontecerá se eles começarem a bombardear. Eles simplesmente não sabem o que estão fazendo”. Ele também pontuou que não acredita que os russos tenham recebido ordens para fazer um ataque às usinas.
A Rússia já capturou a extinta usina de Chernobyl, a cerca de cem quilômetros ao norte da capital da Ucrânia, Kiev, numa operação que Kotin qualificou de “terrorismo nuclear”.
Kotin informou ter pedido à AIEA, vinculada à ONU, que revise seu relacionamento com a Rússia, ajude a criar um perímetro de proibição de 30 quilômetros das usinas para as forças russas, bem como pressione para que a Otan estabeleça uma zona de exclusão aérea sobre o país, segundo o documento visto pela Reuters.
A AIEA disse que está trabalhando com todas as partes para determinar como pode efetivamente fornecer assistência.
Os EUA e seus aliados da Otan rejeitaram o pedido da Ucrânia de impor uma zona de exclusão aérea sobre o país, argumentando que isso levaria a um confronto direto com a Rússia.
A Rússia descreve suas ações na Ucrânia, que começaram em 24 de fevereiro, como uma “operação especial” que, segundo ela, não foi projetada para ocupar território, mas para destruir as capacidades militares do seu país vizinho e capturar o que considera nacionalistas perigosos.
O Gllobo