13/06/2017 | 11h51min
O forrozeiro, por outro lado, se demonstrou irritado com a colocação da artista. "Por favor, ponha a sua mão na consciência, você vem lá de Goiás invadir nossa praia. Agora vê se a gente canta lá no teu Goiás. Vocês não deixam. É horrível, não gosto, é de mau gosto, não tem nada a ver, querem acabar com nossas tradições. Vão se danar e deixem a gente em paz", disparou.
No áudio, divulgado pelo próprio músico em um grupo do WhatsApp
composto por dezenas de representantes do forró, Alcymar chama o
trabalho dela de "breganejo horroroso" e "porcaria". "Essa senhora não
tem autoridade para falar nada. Como é que ela vem falar que aqui é
lugar de sertanejo? Isso é um 'breganejo' horroroso pra cachaceiro, pra
quem não tem identidade", diz em trecho. "Não venha dizer que essa
porcaria que você canta é sertanejo, que isso é 'breganejo'", critica,
citando Tonico e Tinoco e Pena Branca e Xavantinho.
Em entrevista ao Viver, Alcymar disse que a entendeu a
fala de Marília Mendonça como uma provocação a Elba Ramalho e aos demais
artistas que lutam para garantir o espaço do forró nas programações e
confessa que ficou bastante incomodado. "Irritado porque estamos no meio
de uma luta pela preservação da nossa cultura (com a campanha Devolva
Nosso São João). Ela veio falar mal de Elba, não de uma forma direta,
nas estrelinhas, e isso me irritou. Eu achei que era importante
responder e dizer que o São João não é uma festa deles, é uma festa
nossa", defendeu o artista. "Ela não tem direito de vir na nossa terra
para nos humilhar. Essa gente vem para cá para tripudiar com quem está
na luta pelo autêntico forró pé-de-serra. A gente não está pedindo show,
mas pela representatividade da nossa cultura", afirmou.
Em um dos trechos mais incisivos da gravação, Alcymar avisou que
iria "baixar o nível" e disparou: "Não venha aqui no nosso terreiro
cantar de galo não, viu? Aqui quem canta de galo é galo, galinha aqui
não canta não. Entendeu bem? Tá certo? Vá cantar noutro terreiro, deixa a
gente em paz". Sobre essa frase, ele argumenta não ter chamado a
cantora de "galinha" no sentido perjorativo e machista da palavra, mas
como um reforço de que não teria espaço para a música dela em terras
nordestinas. Os "galos", citados no áudio, seriam nomes como Luiz
Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Zé Ramalho
"e toda essa gente que representa muito bem a nossa cultura".
Para Alcymar, a luta não é apenas pelo espaço nos palcos, mas
pela garantia de preservação de "tudo o que caracterize a cultura do
povo nordestino", como a gastronomia e vocabulário. "Cada povo tem sua
cultura, sua maneira de ser, seu 'linguajar'. Eu duvido que ela entenda o
que significa pra gente o 'oxente', 'vixe Maria', 'pro mode que'",
exemplifica. "Vê se a gente canta em Barretos ou no Vila Mix! Eu tenho
um recado para eles: como dizia Putativa do Assará, em um de seus
poemas, 'cante lá, que eu canto cá'", continuou.
Questionado sobre o porquê de excluir artistas do que chamou de
música "aculturada", ele, mais uma vez, é incisivo: "Na minha concepção,
não pode ter sertanejo aqui. A trilha sonora do São João é o forró
criado por Luiz Gonzaga, são as sanfonas, triângulos e zabumbas. Aquilo
que ela canta, ideologicamente, não existe. É uma música
'americanalhada', com uma letra vulgar e melodia trivial, feita com o
propósito de incutir na novas gerações que isso é bonito. Existe música
boa e música ruim, e essa é ruim. Uma música que ninguém sabe de onde
veio fonte, .paraiba.com.br".