Tarcísio Meira, em ‘Orgulho e paixão’ (2018) sua última novela Foto: João Miguel Júnior/ TV Globo
Morreu
nesta quinta-feira, 12, o ator Tarcísio Meira, aos 85 anos. Ele e a
esposa, a atriz Glória Menezes, de 86, foram internados no Hospital
Albert Einstein, no dia 6 de agosto, em São Paulo, diagnosticados com
Covid-19. Glória apresentou sintomas leves, enquanto o ator precisou ser
intubado. A atriz segue internada.
Considerado um dos maiores
atores da dramaturgia, Tarcísio nasceu em outubro de 1935, em São Paulo.
Ele começou a carreira artística no final dos anos 1950 no teatro, em
peças como Chá e Simpatia e Quando As Paredes Falam, ambas em 1957.
Um
dos grandes galãs de todos os tempos, Tarcísio Meira é dono de uma
história que se mistura à da TV brasileira. Ao lado da mulher, Glória
Menezes, foi protagonista da primeira telenovela diária do país, “2-5499
— Ocupado”, na Excelsior, em 1963. Em 1968, o casal inaugurou a faixa
das oito da Globo com “Sangue e areia”. Ao longo da carreira, atuou em
mais de 60 trabalhos, entre novelas, minisséries e especiais. Seu último
trabalho na TV Globo foi a novela “Orgulho e paixão”.
Tarcísio
Magalhães Sobrinho nasceu no dia 5 de outubro de 1935, em São Paulo. O
sobrenome Meira veio “emprestado” da mãe, Maria do Rosário Meira Jáio de
Magalhães, por ser mais sonoro artisticamente e por trezes letras, uma
superstição do jovem na época. Seu primeiro sonho profissional foi
ingressar no Instituto Rio Branco para se tornar diplomada. Ao ser
reprovado na primeira prova, em 1957, desistiu da ideia e acabou
investindo definitivamente na carreira de ator.
Foto: Globoplay
Amor, teatro e TV
No mesmo ano em que não passou na prova do Instituto Rio Branco, Tarcísio estrelou peças como “Chá e simpatia“,
de Robert Anderson, e “Quando as paredes falam”, de Ferencz Molnar. Em
1959, dividiu o palco com Sérgio Cardoso em “Soldado Tanaka”, de George
Kaiser.
Em 1960, ainda no teatro, o jovem de 25 anos e 1,85m viu Glória pela primeira vez. Os dois se casaram em 1962 e, em 1964, tiveram seu único filho, Tarcísio Filho.
Tarcísio e Glória
viraram grandes estrelas da TV Excelsior, que os escolheu para
protagonizar “2-5499 — Ocupado”. Depois, foram mais nove novelas até
assinar com a TV Globo. Na emissora carioca, fez sua estreia, também com
a mulher, em “Sangue e areia”, em 1967. Três anos depois, ele viveu um
de seus personagens mais emblemáticos: João Coragem, de “Irmãos
Coragem”, novela de Janete Clair, estrondoso sucesso da época. Segundo o
site do projeto Memória Globo, a audiência do penúltimo capítulo foi
maior que a da final da Copa do Mundo. “Foi a primeira novela que os
homens admitiam que viam. Até então, eles viam meio escondidos, porque
novela era coisa de mulher”, explicou o ator ao site.
Em sua longa
trajetória na TV, o paulistano na TV viveu personagens inesquecíveis
como Antônio Dias, em “Escalada” (1975), novela de Lauro César Muniz.
Com Felipe, em “Guerra dos sexos” (1983), surpreendeu ao viver seu
primeiro personagem cômico e protagonizou cenas impagavéis ao lado de
Fernanda Torres e Paulo Autran. Renato Villar, em “Roda de Fogo” (1986),
obra de Lauro César Muniz; Dom Jerônimo, na minissérie “A muralha”
(2000), adaptação do livro de Dinah Silveira de Queiroz assinada por
Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro; Aristide, em “Páginas da
vida” (2006), e Manoel Carlos; Tibério Vilar, no remake de
“Saramandaia”, de Dias Gomes, feito por Ricardo Linhares (2013), foram
outros personagens que marcaram sua carreira. Sua última novela foi
“Orgulho e paixão”, escrita por Marcos Bernstein em 2018, em que
interpretou Lorde Williamson.
Com Mazzaropi e Glauber
O
ator não restringiu sua carreira à TV. Em 1963, fez seu primeiro filme,
“Casinha pequenina”, um dos maiores sucessos da filmografia de
Mazzaropi. No cinema foram mais de 20 produções, entre elas “A idade da
pedra” (1981), último filme de Glauber Rocha e um dos mais complexos e
reflexivos, com quatro personificações distintas da imagem de Cristo (um
negro, um militar, um indígena e um guerrilheiro).
— Um dia,
Glauber me botou no meio de uma bateria de escola de samba. De uma hora
para outra, na batida da música, notei algo: o que era para ser uma
escola de samba virou uma banda militar, quase que numa marcha. Era um
tipo de cinema que eu nunca tinha feito — disse Tarcísio, em entrevista
ao GLOBO em 2010.
No mesmo ano, o ator estrelou “O beijo no
asfalto”, dirigido por Bruno Barreto e baseado na peça de Nelson
Rodrigues. A obra deu o que falar na época já que o personagem de
Tarcísio beijava o de Ney Latorraca na boca. O último longa do ator foi
“Não se preocupe, nada vai dar certo!”, de Hugo Carvana, comédia
lançada em 2011.
— Carvana me deu um personagem que chora de
mentirinha, mas também é capaz de chorar de verdade. E com verdade.
Cinema é isso: é ver, é acreditar e se emocionar — contou ele, em 2010.
No
fim de 2019, Tarcísio subiu aos palcos pela última vez, com a
reencenação de “O camareiro”, peça que estrelou em 2015 e lhe rendeu o
prêmio Shell de melhor ator em 2016. Ao todo, foram 31 peças de teatro
ao longo da vida, muitas delas com Glória, como “Tudo bem no ano que
vem” (1976), “Toma lá,dá cá” (1983) e “E Continua tudo bem” (1996).
“O
trabalho do ator é bonito e útil. Diz respeito à sensibilidade. Eu
procuro desempenhá-lo da melhor maneira possível, com a máxima eficácia.
Tento convencer as pessoas das verdades daquele personagem. Essa
carreira me gratifica muito”, disse ele ao Memória Globo.
O Globo