Avião militar para 100 passageiros decolou do Afeganistão com mais de 600 a bordo – Defense One – 15.ago.21/Reuters
Com centenas de pessoas tentando fugir desesperadamente do Afeganistão, em cenas dramáticas no aeroporto internacional de Cabul, horas depois de o Talibã assumir o controle do governo, uma aeronave militar americana transportou, em segurança, 640 pessoas a bordo — a capacidade “oficial” do avião é de cerca de 100 passageiros.
De acordo com relatos publicados pela imprensa dos EUA, o C-17 Globemaster III operado pela Força Aérea dos EUA estava prestes a decolar rumo à base de al-Udeid, no Qatar, com alguns passageiros selecionados pelos americanos, na noite de domingo.
Contudo, a aeronave foi invadida, e centenas de pessoas se amontoaram no chão. Segundo o site Defense One, citando fontes do Departamento de Defesa, a tripulação “tomou a decisão de partir”, e cerca de 640 pessoas desembarcaram no destino final, em segurança. Inicialmente, falava-se em até 800 passageiros.
O aeroporto da capital afegã tem registrado cenas surreais de desespero de moradores buscando fugir da cidade. Na mais chocante delas, ao menos duas pessoas morreram após se alojar junto ao trem de pouso de um gigantesco cargueiro militar americano em plena decolagem —não se sabe se seria o mesmo C-17 que levou os cerca de 640 passageiros.
Dezenas de civis fizeram o mesmo com outros aviões militares e invadiram duas aeronaves comerciais estacionadas na pista. Ao menos sete pessoas morreram, de acordo com a agência de notícias Associated Press.
Após a manhã desta segunda-feira (16), os americanos suspenderam até mesmo os pousos militares, obrigando um avião alemão a desviar para o vizinho Uzbequistão.
Isso não impediu empurra-empurra e mais violência. Ao menos duas pessoas foram mortas, de acordo com o Pentágono, por se aproximarem armadas de barreiras com soldados americanos.
Além disso, os EUA recomendaram que empresas aéreas evitem voar também sobre o Afeganistão. Desde domingo, isso foi acatado por United Airlines, British Airways e Virgin Atlantic. Nesta segunda, foi a vez de Qatar Airways, Singapore Airlines, Taiwan’s China Airlines, Air France, KLM e a Lufthansa.
Os americanos ocupavam o Afeganistão com tropas militares desde 2001, após os atentados terroristas de 11 de setembro, quando os americanos retiraram o Taleban do poder. Antes, o grupo fundamentalista governou o país por cinco anos, em um regime marcado pela violência e pelo desrespeito aos direitos humanos.
Após 20 anos de guerra, no entanto, as tropas ocidentais não conseguiram fortalecer o Estado afegão, e bastou o anúncio do governo Joe Biden de que retiraria os militares do país para que, em poucas semanas, o Taleban retomasse o poder, numa ofensiva militar que se concretizou neste domingo.
Até aqui, o grupo fundamentalista islâmico tem cumprido sua promessa de não impedir a saída de pessoal ocidental do Afeganistão. É incerto, contudo, o que fará em relação a afegãos com a mesma ideia.
Folha de São Paulo