Integrante da divisão de urologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, o médico Conrado Alvarenga aponta a falta de atenção do homem com sua saúde como um fator central no aumento dos problemas relacionados à fertilidade masculina.
“Vivemos em um mundo onde o manejo do estresse está cada vez mais difícil. Os homens estão cada vez mais obesos, mais sedentários, dormem pior e têm mais distúrbios hormonais. Uma soma de fatores negativos que culmina na piora da fertilidade”, afirma o urologista em entrevista ao Metrópoles.
A percepção de Conrado Alvarenga se sustenta em números. Um estudo publicado em maio passado na revista inglesa The Economist, realizado em 55 países, retrata como a saúde masculina piorou nas últimas quatro décadas. O levantamento indica uma redução progressiva da concentração de espermatozoides e, consequentemente, diminuição da fertilidade.
Ao longo das quatro décadas mencionadas, o índice de espermatozoides do grupo analisado sofreu uma queda considerável: de 99 milhões por ml para 47 milhões por ml.
Para Conrado Alvarenga, se não houver uma mudança de comportamento que valorize a prevenção e a valorização da saúde, em 2045 ou 2050, nem metade dos homens terá o espermograma normal. “Não enxergamos nenhuma mudança para que essa curva amenize”, pondera o urologista.
Exposição a plásticos
Outro fator prejudicial é a exposição a plásticos que contenham BPA, o composto químico bisfenol A. Apesar de nocivo à saúde, o material está presente em DVDs, computadores, eletrodomésticos, revestimento para latas de comidas e bebidas.
Segundo o especialista, o contato constante com artigos que contenham esse composto químico pode interferir em importantes vias hormonais na glândula tireoide e acabar inibindo os efeitos da testosterona.
“Esses materiais são chamados de disruptores endócrinos. Assim como a poluição, o contato diário com esses objetos afeta a perfeição do funcionamento hormonal.”
Conrado Alvarenga explica que os sinais de redução de fertilidade ficaram mais evidentes a partir dos anos 1990.
A influência cultural
Na avaliação do psicólogo Davi Ruivo, subcoordenador da Subsede Grande ABC, do Conselho Regional de Psicologia de SP, a relação do homem com a saúde é uma questão cultural.
“Existe um critério de produtividade ali e temos na figura do homem o papel de mantenedor. Ele não pode parar de trabalhar”, pondera Davi Ruivo. “A mentalidade da maior parte dos homens é: vai que chego no médico e descubro que estou doente? A partir disso, podemos entender o quanto a masculinidade está presente na produtividade do homem.”
Metrópoles