A governadora Maria de Fátima Bezerra tem tudo para fazer história no RN. Mas também tem tudo para fazer uma história negativa dentro de seu próprio partido.
Fátima construiu sua história com as bandeiras de luta do PT desde quando foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, quando usou o SINTE para fazer carreira política.
Nada que desabone sua conduta. Pelo contrário. Sua luta a credenciou a alçar voos mais altos. E conseguiu. Com mérito.
De deputada estadual, federal, senadora e governadora, tudo que Fátima construiu foi dentro do PT, com o PT, com o apoio do PT. É verdade que ela sempre foi maior que o partido. Assim como Lula, ela conseguiu ser maior que o PT.
Governadora do RN, Fátima pode até não ter sido o que o PT esperava, mas o PT não a decepcionou. Sempre a apoiou.
Chega 2022 e Fátima sinaliza que vai trair o PT. É forte essa afirmativa. Afinal, Fátima jamais traiu o PT. Pelo contrário. Sempre valorizou o partido.
Porém, em 2022, Fátima caminha para trair o PT.
E como isso pode acontecer?
O ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo, quando viu a oportunidade de ser o candidato a governador contra Fátima, bateu pesado na gestão da filha de seu Severino. O PT reagiu e defendeu o governo.
A estratégia de Carlos Eduardo ao bater em Fátima, era abrir portas para ser o candidato da oposição. As portas foram abertas. O filho de Agnelo bateu mais forte em Fátima.
Quando viu que bater no governo não funcionava, passou a cortejar o governo que acabara de criticar. Arregou.
Com essa postura pendular, Carlos Eduardo perdeu o respeito da oposição. A essa altura, o cargo que o ex-prefeito almejava, o de senador da República, ora ocupado pelo ex-suplente de Fátima, Jean Paul Prates, já não estava tão vazio quanto o filho de Agnelo pensava.
Jean Paul, outrora lobista desconhecido do eleitorado potiguar, relembrou que havia sido secretário de Wilma de Faria e construiu, de forma surpreendente, a casa que o abrigaria como suplente de Fátima Bezerra na primeira candidatura da irmã de Tetê ao Senado.
Vitoriosa, Fátima exerce com maestria sua cadeira no Senado, o que a credencia para ser governadora do RN. É a primeira vez que o potiguar elege uma professora, ex-sindicalista, de origem popular, para governar o Estado.
A posse de Fátima transforma Jean Paul em senador efetivo.
Ele começou tímido, mas logo ganhou notoriedade e conquistou o título de líder da minoria. Pode até parecer pouco. Mas Jean Paul passou a ser ouvido pelas principais lideranças da oposição no País, entre elas, o ex-presidente Lula, de quem virou interlocutor para ser porta-voz informal do que pensava e do que queria aquele que governou o Brasil por 8 anos.
Poucos talvez saibam, mas Jean Paul Prates conversou mais com Lula durante o mandato do que Fátima e todos os petistas do RN. Lula pedia e Jean levava adiante e transformava o assunto em tema do Congresso. Isso foi feito de forma discreta.
A relação entre Lula e Jean Paul estava consolidada sem que precisasse dar visibilidade ao que havia sido construído.
Enquanto isso, no RN, a oposição agonizava em busca de um candidato competitivo. Carlos Eduardo era matéria prima de quem buscava derrotar Fátima.
Quando viu que a oposição já não o procurava mais, Carlos Eduardo buscou amparo no governo que tentou derrotar. Poucos o acolhiam no PT e no governo.
Por uma situação simples. Jean Paul seria o senador de Fátima e o senador de Lula. Um mandato de oito anos não deveria ser dado a quem não merecia confiança.
Dentro do PT, a maioria pensava assim. Como dar um mandato para alguém que é inconfiável, cujo partido nacional vai trabalhar contra o PT e no RN vai se virar contra quem o elegeu?
Ganhou corpo a tese de que Carlos Eduardo e seu minúsculo PDT não seria imprescindível para a reeleição de Fátima. Principalmente depois que o filho de Agnelo foi rejeitado pela oposição liderada pelos ministros de Bolsonaro.
Pareceria lógico que o PT não abriria mão de ter um senador puro sangue para dar a cadeira a um futuro traidor.
Parecia.
Porém, eis que surge Maria de Fátima Bezerra e apresenta sua tese de que precisa de Carlos Eduardo para ser reeleita, mesmo que tenha que trair o PT e rifar a candidatura de Jean Paul.
Nesse momento, dentro do PT, surge a frase inimaginável: Fátima, traidora do PT?
Inimaginável, mas possível. De acordo com informações de bastidores, colhidas pelo blog Tulio Lemos, Fátima está trabalhando contra o PT com medo de perder eleição. Busca amparo em Carlos Eduardo, a quem derrotou em 2018 e que está isolado em 2022, depois que a oposição não o quis, após crise de desconfiança.
Quer dizer que o refugo da oposição por falta de confiança vai ser o senador do PT?
É possível. Afinal de contas, Fátima, não se sabe baseada em que, acredita que precisa trair o PT, descartar Jean Paul e dar a cadeira de 8 anos a um futuro traidor do próprio partido.
Poucos acreditam nisso, mas Fátima Bezerra trabalha hoje para trair o PT e entregar a cadeira de senador a Carlos Eduardo.
Ela até teria motivo para convencer o partido de que seria viável e necessário fazer aliança e entregar a cadeira do PT no Senado a alguém como Carlos Eduardo. O problema é que não justifica a mudança no momento em que a oposição refugou esse nome, o PT também não o aceita e Fátima quer empurrar Carlos Eduardo contra a vontade de todos, passando a sensação de que está com medo de perder a eleição.
Fátima caminha para trair o PT. Será que ela quer carregar em sua bonita história de militância, o carimbo de traidora do partido que ajudou a fundar?
Carlos Eduardo, que não tem para onde ir, agradece o gesto escorpião de Fátima com o PT.
Fátima gostaria de ter suas digitais no processo de traição do PT?
Somente o tempo dirá.
Por Tulio Lemos