domingo, 6 de maio de 2018

Maior especialista em voto do Brasil diz que quem Lula indicar vai ao 2º turno

Cientista Político e Analista do instituto analise Alberto Carlos Almeida FOTO ALEX SILVA/ESTADÃO
Outubro se aproxima e a pergunta que cada vez mais faz parte da vida dos brasileiros é a seguinte: Qual será a definição do cenário eleitoral, especialmente para presidência? O grande diferencial das eleições de 2018, em relação às últimas, é que elas ocorrerão em meio a uma crise profunda, na avaliação do cientista político, sociólogo e pesquisador Alberto Carlos Almeida. De acordo com ele, hoje o processo sucessório está cercado por um sentimento de desesperança, tanto do ponto de vista da demanda, ou seja, do eleitor, quanto da oferta, pois há um desestímulo até mesmo entre os candidatos, em consequência da judicialização do processo. Almeida defende um número menor de candidatos à presidência e, apesar do cenário indefinido, acredita que a polarização PT x PSDB, ainda desta vez, vai ditar o ritmo do processo eleitoral. O cientista político desenvolveu uma metodologia própria com dados quantitativos e qualitativos para prever tendências. Os estudos que ele coordena ajudam a compreender usos e costumes do povo em relação à sociedade, à política, assim como no que se refere a aspectos judiciários e culturais. Almeida criou o Instituto Analise, hoje a BRASILIS, que atua em sociedade com a HSR Specialist Researchers, um instituto de pesquisa especializado em análises de dados primários e secundários sobre a sociedade brasileira. Também é sócio do Inteligov, primeira plataforma de inteligência legislativa inteiramente automatizada. É autor do livro A Cabeça do Brasileiro, entre outros. E é justamente para tentar decifrar a cabeça dos brasileiros que ele concede entrevista à Fórum.
Fórum – Você lançou em 2007 o livro A Cabeça do Brasileiro. Em sua opinião, como anda a cabeça do brasileiro, 11 anos depois, em relação às próximas eleições? E o que você observa de diferente entre as últimas eleições presidenciais e a de 2018?
Alberto Carlos Almeida – O grande diferencial nas eleições em 2018 é que elas ocorrerão em meio a uma crise profunda, tanto política quanto econômica. Do ponto de vista econômico, a sociedade viu seu poder aquisitivo diminuir e todo esse cenário terá uma recuperação lenta. A população não sente uma melhora em sua qualidade de vida e isso tem ligação com o Judiciário, com a prisão de vários políticos. As pessoas acabam tendo uma percepção de que a situação só piorou e isso se aprofunda cada vez mais. Prevalece a ideia de que os políticos são ladrões e, “além de roubar, eles pioraram minha situação”. Eu, particularmente, não gosto da famosa análise do “rouba, mas faz”, acho superficial. No entanto, esses políticos que roubam fazem parte de um contexto no qual no povo não tem controle sobre isso. A verdade é que a vida piorou e o governo federal não está cumprindo suas principais atribuições, que são cuidar para que não haja muito desemprego e garantir poder de compra à população. O cenário provoca uma imensa desesperança nas pessoas. Há uma desesperança do ponto de vista da demanda, ou seja, do eleitor, pelos motivos que mencionei, e também da oferta, pois existe um desestímulo em consequência da judicialização do processo político, o que prejudica muito. Dificilmente alguém de fora da política pensa em ingressar nessa atividade, pois qualquer coisa que aconteça ele pode ser processado. Há uma paralisia e, apesar de termos muitos pré-candidatos à presidência, vários vão acabar desistindo no meio do caminho.
Fórum – Como observa a importância do fator Lula nas eleições? Ao que tudo indica ele não poderá participar diretamente do pleito como candidato. Entretanto, você acredita que, mesmo assim, quem for indicado por ele terá boas chances de vencer?
Alberto Carlos Almeida – Tenho convicção de que quem ele indicar tem boas chances de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais. A pessoa física do Lula está presa, mas o apoio que ele tem da opinião pública está solto. Quando chegar mais perto do pleito ele, certamente, vai emitir um comunicado indicando um nome. E esse nome terá ampla cobertura da mídia, vai crescer no cenário eleitoral, nas pesquisas e o PT vai se debruçar na campanha tentando elegê-lo, o que o deixará com muita chance de alcançar o segundo turno. Lula vai ter um papel limitado, mas importante, principalmente mandando mensagens por escrito pedindo voto para seu substituto.
Fórum – Na sua percepção, como a chamada nova classe média, que surgiu especialmente no governo Lula, vai se comportar no processo eleitoral? É fato que ela está se descolando do petista?
Alberto Carlos Almeida – A verdade é que temos vários cenários. A classe média que melhorou de vida, a que piorou, aquela que melhorou com Lula e piorou com Temer, que é o que o PT vai tentar comunicar durante a campanha. Mas o que eu faço questão de chamar atenção é que a classe média alta ainda vota mais no PSDB e a classe baixa escolhe o PT. Acredito que a polarização ainda vai persistir nessas eleições.
Fórum – Mas não é isso que estamos observando nas pesquisas de intenção de voto, pois, ao contrário das últimas eleições, nas quais o PSDB brigou pela vitória com o PT, dessa vez a candidatura tucana parece não decolar. Como observa a questão?
Alberto Carlos Almeida – É fato que o PSDB vive uma situação bastante desconfortável nas pesquisas de intenção de voto. No entanto, eu imagino, apenas imagino, porque o atual cenário não permite grandes certezas, que a estrutura partidária irá favorecer o PSDB. O candidato terá palanque em todos os estados do país, acesso à mídia, tempo de propaganda eleitoral na TV. Assim como o PT. Portanto, para mim, o mais provável ainda é a polarização PT x PSDB. Há muita instabilidade no país e o eleitor vai acabar procurando quem tem mais estrutura, história e experiência.
Fórum – A região Nordeste, tradicional reduto do PT, vai conseguir eleger o novo presidente?
Alberto Carlos Almeida – A região Nordeste vai ser um fator muito importante para ajudar o candidato do PT a chegar ao segundo turno. Pelas mais recentes pesquisas eleitorais, os votos de Lula vêm de lá, em sua maioria, do Nordeste. E essa carga de votos será transferida para o candidato que ele indicar. Para se ter uma ideia do peso do Nordeste, seu eleitorado representa 27% do total nacional de votos válidos. São Paulo representa 23%, equivalente numericamente.
Fórum – O que acha de os partidos do campo progressista lançarem cada um seu candidato próprio (Lula ou outro do PT, Manuela D’Ávila (PCdoB), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL))? Não seria mais interessante concentrar forças em um nome só?
Alberto Carlos Almeida – Acho que o ideal para todos é que menos candidatos da corrida eleitoral. O que deve ficar claro é que, certamente, não existem campos ideológicos diferentes para tantos partidos que compõem o quadro eleitoral brasileiro. Para mim, algumas candidaturas não passam de “egotrip” de certos candidatos. Por isso, acredito que seria muito bom para o centro-esquerda, para o centro-direita e, principalmente, para o eleitor, que houvesse menos candidatos na disputa.
Fórum – Como avalia o “fenômeno” Bolsonaro? Acredita que ele pode chegar à vitória, apesar de suas ideias serem de extrema direita?
Alberto Carlos Almeida – Acredito que o Bolsonaro, apesar de figurar bem nas pesquisas de intenção de votos, vai perder, ao longo da campanha, um dos argumentos que sustentam seu discurso: a segurança pública. Ele não tem controle sobre isso, e, com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, haverá alternância de dia entre os candidatos a presidente e governador. Isso vai diluir a força do seu discurso, pois o eleitor vai perceber que quem cuida do tema segurança pública são os governos dos estados e não o governo federal. Aliás, a população sabe isso, mas, às vezes, precisa ser lembrada. Quanto ao fato de Bolsonaro estar bem colocado nas pesquisas, creio que tudo que vem acontecendo colaborou. Há muito tempo que os principais partidos, como PT, PSDB, MDB, aparecem na mídia vinculados à corrupção, o que acaba abrindo espaço para nomes como o dele. No entanto, ele ainda vai sofrer um bombardeio violento, pois é alvo de várias denúncias que, por enquanto, não aparecem, mas vão aparecer, o que será importante com o passar do tempo.
Fórum – É possível identificar o perfil do o eleitor brasileiro?
Alberto Carlos Almeida – Em minha avaliação, o eleitorado brasileiro tem vários perfis, pois se trata de um país muito grande. No entanto, dois perfis são mais importantes: o pobre, que vota no PT, porque tem esperança, e a classe média, que aposta em um outro tipo de governo para melhorar de vida.
fonte,  https://expressopb.net/

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