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sexta-feira, 28 de maio de 2021
Operação Fura-Fila: deputado é investigado, vereador de Parnamirim é preso e secretários são afastados
O Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) deflagrou nesta terça-feira (20) a operação Fura-fila. O objetivo é desmontar um suposto esquema de fraudes no sistema de marcação de consultas e exames do Sistema Único de Saúde (SUS)
no Estado. Um deputado estadual é suspeito de envolvimento com o
esquema. Um vereador de Parnamirim foi preso e cinco secretários
municipais de Saúde e de Assistência Social, afastados dos cargos.
As investigações do MPRN foram iniciadas em 2019, após denúncias de servidores da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).
Na apuração, o MPRN descobriu que desde 2017 a organização criminosa
inseria dados falsos e alterava informações legítimas no Sistema
Integrado de Gerenciamento de Usuários do SUS (SIGUS),
sistema informatizado utilizado pela Sesap e por alguns municípios do
Estado para regular a oferta, autorização, agendamento e controle de
procedimentos ofertados pelo SUS. Essas invasões na ferramenta de
regulação interferem na sequência de elegibilidade de procedimentos
médicos gerenciados pelo Sistema. Desta forma, o grupo furava a chamada
“fila do SUS”, propiciando vantagens indevidas aos fraudadores.
Com o apoio da Polícia Militar, a
operação Fura-fila cumpriu dois mandados de prisão preventiva, um
mandado de prisão temporária e ainda outros 22 mandados de busca e
apreensão nas cidades de Natal, Parnamirim, Mossoró, Caicó, Monte
Alegre, Areia Branca, Brejinho, Frutuoso Gomes, Rafael Godeiro e Passa e
Fica. Também houve o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na
cidade de São Paulo. Ao todo, 27 promotores de Justiça, 42 servidores do
MPRN e 90 policiais militares participaram da ação.
O MPRN apurou que o esquema seria encabeçado por Diogo Rodrigues da Silva,
eleito vereador por Parnamirim em 2020. Ainda antes de se eleger,
valendo-se de sua posição dentro da estrutura administrativa municipal,
Diogo Rodrigues teria montado o esquema de inserção de dados falsos no
SIGUS, burlando a fila do SUS. A suspeita é que ele teria como
braço-direito no esquema: a própria companheira, Monikely Nunes Santos,
que é funcionária de um cartório em Parnamirim.
O casal é investigado pelos crimes de
estelionato, exercício ilegal da medicina, falsidade ideológica,
peculato, inserção de dados falsos em sistema de informações, lavagem de
dinheiro e organização criminosa. Para o cometimento dos delitos, Diogo
Rodrigues e Monikely Santos, que foram presos preventivamente,
supostamente contavam com o apoio direto de outras pessoas, também alvo
das investigações do MPRN.
Uma dessas pessoas seria o deputado estadual Manoel Cunha Neto, conhecido por Souza.
Ele é investigado pela prática de peculato eletrônico, falsidade
ideológica e corrupção passiva. Um mandado de busca e apreensão foi
cumprido na residência de Souza. O Tribunal de Justiça do RN afastou o
foro por prerrogativa de função do deputado porque os crimes
investigados em nada têm a ver com as atribuições parlamentares de
Souza, conforme previsto na Constituição do Estado do Rio Grande do
Norte e no Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado. De
acordo com as investigações do MPRN, o deputado é suspeito de manter
contato direto com Diogo Rodrigues para que fossem inseridos nomes de
interessados no Sistema do SUS.
Em uma conversa por aplicativo de
mensagens no dia 18 de fevereiro de 2020, Diogo reforçou com Souza sobre
uma possível blindagem contra a investigação do MPRN: “O caldo vai engrossar e vou precisar de gás”,
escreveu o vereador ao deputado, sugerindo que estaria envolvido em
alguma situação difícil ou complicada e que precisaria da ajuda da
Assembleia Legislativa do RN.
Outra pessoa investigada é Bruno Eduardo Rocha de Medeiros, que foi sócio da Medeiros e Rocha LTDA,
empresa responsável pelo SIGUS. O MPRN suspeita que Bruno Medeiros
alterava dados do Sistema de forma a dificultar a identificação
posterior dos médicos que autorizam cada exame. Ele foi preso
temporariamente para evitar que, devido ao conhecimento do sistema
burlado, não possa alterar dados e informações armazenados na “nuvem” ou
destruir provas ainda não coletadas contra o grupo. Mandados de busca e
apreensão foram cumpridos na residência de Bruno Medeiros e também na
sede da empresa.
Secretários municipais de Saúde e de
Assistência Social também estariam envolvidos com o esquema fraudulento.
O MPRN apurou que cinco mantinham ligação direta com Diogo Rodrigues.
Por esse motivo, a Justiça determinou o afastamento e a proibição de
ocupar cargo comissionado ou de ser contratado temporariamente pelo
Poder Público pelo prazo de seis meses de Gleycy da Silva Pessoa,
secretária de Saúde de Brejinho; Maria Madalena Paulo Torres, secretária
de Saúde de Frutuoso Gomes; Alberto de Carvalho Araújo Neto, secretário
de Saúde de Arês; Anna Cely de Carvalho Bezerra, secretária de
Assistência Social de Brejinho, e Eliege da Silva Oliveira,
ex-secretária de Saúde de Ielmo Marinho.
O MPRN levantou que esses secretários
remuneravam Diogo Rodrigues ilicitamente, através de contratos com
laranjas do grupo, notadamente familiares do vereador suspeito.
O MPRN suspeita que Eliege da Silva
Oliveira mantinha contato constante com Diogo Rodrigues por meio de dois
terminais telefônicos, havendo, respectivamente, 522 e 739 mensagens
trocadas entre eles somente no período investigado. Entre 3 de julho de
2017 e 23 de outubro de 2018, Gleicy da Silva Pessoa trocou 8.006
mensagens com Diogo Rodrigues.
De acordo com a investigação, Maria
Madalena Paulo Torres supostamente mantinha relação de negócios e troca
de favorecimentos pessoais com Diogo Rodrigues. Alberto de Carvalho
Araújo Neto, que também já foi secretário de Saúde da cidade de Lagoa de
Pedras, também é suspeito de manter contato com Diogo Rodrigues, com
quem teria trocado 4.650 mensagens, na grande maioria referentes à
marcação de exames. E Anna Cely de Carvalho Bezerra também é suspeita de
ter trocado com Diogo Rodrigues 1.079 mensagens, no período de 28 de
novembro de 2017 a 23 de outubro de 2018.
De posse do material apreendido, o
MPRN irá aprofundar as investigações sobre a atuação da organização
criminosa e apurar se há mais pessoas envolvidas com as fraudes no
esquema de fura-fila do SUS no Rio Grande do Norte.
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