domingo, 8 de agosto de 2021

77% dos atletas olímpicos de SP em Tóquio recebem recursos do governo federal; Problema é apoiar só campões, diz especialista

 

Pugilista Abner Teixeira, natural de Osasco e integrante da Liga Sorocabana de Boxe, é atleta militar e também recebe as bolsas Atleta e Pódio devido ao seu alto rendimento no esporte — Foto: Stoyan Nenov / Reuters

Pugilista Abner Teixeira, natural de Osasco e integrante da Liga Sorocabana de Boxe, é atleta militar e também recebe as bolsas Atleta e Pódio devido ao seu alto rendimento no esporte — Foto: Stoyan Nenov / Reuters

77% dos atletas olímpicos de São Paulo em Tóquio recebem recursos financeiros do governo federal. No Brasil, o incentivo do poder público ao esporte por meio de bolsas e contratos é voltado somente para aqueles com algum destaque o cenário de competições.Para o levantamento, o G1 considerou os 110 atletas que treinam no estado de São Paulo ou que defendem clubes e associações paulistas, conforme a base de dados do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a análise das portarias do Ministério da Cidadania que listam os atletas contemplados pelas bolsas Pódio e Atleta, e informações do Programa de Incorporação de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) fornecidas pelo Ministério da Defesa.

Do total de 110 atletas de São Paulo, 85 recebem um ou mais desses auxílios, sendo 50 aqueles que recebem a Bolsa Pódio, 40, a Bolsa Atleta, e 43 que fazem parte do PAAR.

Em todos os casos, para que o atleta receba incentivo no Brasil, ele depende de resultados positivos em campeonatos e precisa manter a performance para continuar a receber apoio.

“A questão é: quem deu apoio no começo? Então, não é que não tem apoio ao esporte no Brasil, mas não há uma política, já que o investimento é em atletas, e não na sociedade”, opinou o prof. dr. Ary José Rocco Jr., da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP).

 

Critérios

A Bolsa Pódio ajuda com valores de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais os atletas que já estão entre os melhores do mundo – entre os 20 primeiros do ranking mundial de sua modalidade ou prova específica.

A Bolsa Atleta tem várias faixas de auxílio, sendo o valor máximo de R$ 3.100 mensais para os atletas olímpicos e R$ 370 por mês para as categorias de base, mas mesmo para o benefício mínimo é necessário já ser um atleta federado, ter participado de competições e já ter conseguido no mínimo a terceira colocação em alguma prova.

Já aqueles contratados pelas Forças Armadas contam com a boa infraestrutura das instalações militares, assistência médica, pagamento equivalente ao de um 3º sargento, que é de aproximadamente R$ 4.500, férias e 13º salário.

“Eu acho que, no fundo, o Brasil ainda não decidiu qual vai ser o papel do esporte por aqui. Nos EUA eles têm o modelo deles, atrelado às universidades. Na Dinamarca, o esporte opera mais pela qualidade de vida, com instalações esportivas para todos. Na China, o investimento pesado é uma forma de se posicionar no cenário geopolítico. Aqui, falta uma política para a massificação do esporte, que poderia acontecer do ponto de vista social ou educacional, talvez para população vulnerável, ao mesmo tempo em que se destacariam atletas como consequência do investimento”, disse o prof. dr. Ary José Rocco Jr..

 
Andressinha, camisa 17, joga pelo Corinthians, em São Paulo, e conseguiu a Bolsa Atleta pelo alto rendimento que possui — Foto: Kohei Chibagara/AFP

Andressinha, camisa 17, joga pelo Corinthians, em São Paulo, e conseguiu a Bolsa Atleta pelo alto rendimento que possui — Foto: Kohei Chibagara/AFP

Outras iniciativas

Na visão do professor, a lei Abner/Piva, de 2001, possui potencial para compor uma política pública, mas ainda não é implementada como poderia por estar novamente atrelada ao desempenho dos atletas federados e também pela má gestão de algumas confederações.

Essa legislação prevê que um percentual da arrecadação das loterias federais seja destinado ao COB e repassado às confederações para investimento contínuo nas modalidades, no financiamento dos atletas e em centros públicos bem equipados com tecnologia e equipe disciplinar.

Existe também as leis de incentivo em níveis federal e estadual, que funcionam no momento da renúncia fiscal às entidades que utilizam o esporte do ponto de vista social e educacional. Com elas, as associações conseguem oferecer o desconto do ICMS e tributos federais às empresas que se interessem em patrocinar o projeto. 

 


 

 

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